Ela já sabia que o amor não existia.
Ela já que o amor não existia. Por isso, tratou de inventá-lo. Começou pelas pontas dos dedos. Pintou as unhas de laranja-desmaiado, da cor de amor quando quer nascer. Assim que secaram, levou-as para ele ver. Durante a noite, desfilou as mãos cuidadosamente manchadas de tinta pelo corpo do moço. Pousou-as nas costas dele e mirou longamente o amor inventar-se ali nas pontas de seus dedos. O amor era cor de laranja. Ela já sabia que o amor não existia. Por isso, tratou de inventá-lo. Também comprou uma porção de vestidos. Já sabia que tudo que não existe vem embrulhado em vestidos rodados. Encantados. Feitos os de princesa. Traje a rigor para encontrar o lugar - nenhum, lá no reino perdido do beleléu, onde mora o amor, bem ao lado do latifúndio do infinito. De rodado-encantado, dançou no corpo dele. O amor era uma vez. E agora, era a vez de ser feliz para sempre. Mas, ela já sabia que o amor não existia. Mesmo. E as pontas dos dedos já não alcançavam a sua melhor invenção. Tent...