Sábado anoite e o Pontilhismo
(nome do quadro: "Les Poseues" (As modelos) de Georges Seurat.)
No final de semana sai com uma amiga, a nossa intenção era paquerar. Saímos solteiras, lindas, sem destino e com chuva. E voltamos para a casa, ainda solteiras, lindas, sem chuva, mas pelo menos tínhamos o destino – nossa casa.
Fomos parar em um barzinho que estava lotado apesar da chuva, pagamos o estacionamento, mas não tinha como ficar no bar porque quando conseguíssemos uma mesa, os garçons já estariam limpando. Perdemos dinheiro equivalente a duas cervejas (você sabe como é os bêbados de hoje em dias, calculam o prejuízo pelas cervejas não bebidas).
Fomos para outro bar que também estava lotado, mas só que pela maravilha dos garçons resolvemos esperar uma mesa e para nossa surpresa foi super rápido. Sentamos à mesa no canto do bar e naquele momento eu estava odiando os casais a minha volta, mesmo assim brindamos a nossa felicidade.
Comecei a observar toda aquela gente, em uma mesa do lado de fora estavam sentadas quatro moças que bebiam tudo o que agüentassem, pelo visto eram solteiras iguais nós.
A noite se seguiu e nos fomos rindo, por mais melancólica que tenha começado a noite era muito engraçado.
Mas onde quero chegar mesmo é no casal que conhecemos da mesa ao lado. Casal que por sinal me deixou muito intrigada pela forma como encaram o relacionamento. Era um casal aberto, não tenho nada contra e nem nada a favor, acredito no amor livre seja ele como for.
O que me matou mesmo foi uma frase que a mulher disse para nós:
_Vocês estão solteiras porque estão exigindo demais. Se o relacionamento não for aberto os homens não querem mais, e completou dizendo:
_ Dessa forma não existe traição!
Gente, como assim?
Será que estou velha demais no meu pensamento ou eles que são muitos “saidinhos”. Acredito no amor, podem me chamar de careta, de brega, mas é isso, falei e ponto.
As pessoas estão muito modernas, acho que se existisse alguma cirurgia para se tornar assexuada, muitos fariam, mas a questão é a forma como as pessoas estão se relacionando nos dias atuais, ninguém quer compromisso, ninguém quer ter responsabilidade, ninguém quer cobranças.
Esses dias atrás li em um blog que a dois tipos de solteiros, o solteiro que está solteiro, mas que quer alguém e o solteiro que está solteiro e só quer “pegar”. O difícil vai ser identificá-los.
No livro Vida para o Consumo de Bauman[*], ele associa a sociedade dos dias atuais, a forma como as pessoas consomem e se desfazem das coisas com a técnica de pintura pontilhismo[**]. No sábado pude perceber que os relacionamentos não são diferentes, as pessoas estão trocando de parceiros da mesma forma como troca aquela bolsa que não combina mais. Seus relacionamentos são pontilhados, sem um começo e sem um fim, apenas um ponto de cor. Apesar de que as artes de pontilhismo ficam ótimas no final, só não sei como fica a vida.
No mesmo livro ele diz que ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar mercadoria. Isso soa tão capitalista e imoral (no mesmo ponto de vista). Quando li relacionei o sujeito e a mercadoria com coisas materiais, mas hoje relaciono o sujeito e a mercadoria com pessoas, ou melhor, pessoas pontilhistas.
Por hoje é só, até a próxima reflexão na mesa de um bar.
Para quem quiser se informar melhor a dica,
[*]Vida para o Consumo – A transformação das pessoas em mercadoria.
Bauman, Zygmunt
Editora: Jorge Zahar
[**]O pontilhismo surgiu na França em meados da década de 1880 como um movimento pós-impressionista, sendo uma reação aos próprios impressionistas. Trata-se de uma técnica de pintura em que o artista fez desenhos e representações usando pequenos pontos ou manchas, dando ao observador, um efeito ótico diferente da pintura convencional.
Adorei!
ResponderExcluirÉ, eu concordo com vc...e olha que eu sou powrra loka rs. Mas realmente, eu tbm num sou dessas de relacionamentos abertos não. Eu hein.
ResponderExcluirBeijo amiga, um dia vc sai pra balada linda e na chuva e volta pra casa com um lindo tbm na chuva rs.