Almoço de mulheres

Faz tempo que não apareço por aqui para escrever meus delírios, nesses últimos dias as coisas aconteceram rápidas demais e ainda continuam. Muitas mudanças em pouco tempo.



O mais divertido disso tudo é que você percebe o que realmente gosta quando fica tempo sem fazê-lo.


O texto abaixo é um fato das mulheres, do fantástico mundo das mulheres.

Você já foi em um almoço de mulheres?





Nesse dia ela entra no restaurante com passo firme, cabeça ativa, olhar direto. Ela chega para o almoço das amigas. Cabelo arrumado, liso, encaracolado, com laquê, depende da idade. O braço em ângulo reto carrega a bolsa de marca, de preferência creme ou bege-claro. O sapato, quando é sapato e não sandália, tem um salto pequeno, de dois ou três dedos, daqueles de aeromoça se firmar no corredor do avião. Ela já sabe onde está a mesa: ou na janela, para todo mundo ver, ou no canto do fundo, para ver todo mundo.


Elas são mais de cinco e no máximo dez, para dar dinâmica, sabe como é. Nas mãos carrega uma lembrancinha, seja o que for: aniversário, batizado, formatura, novo emprego, divórcio, casamento, antes de viagem, depois de viagem, não importa. Os motivos são meros suportes ás lembrancinhas. E mais vale o embrulho que a própria lembrancinha, que ao chegar em casa será esquecida. Mas o papel, a fita, o formato, ah, isso sim é fundamental, como se a lembrancinha unisse, no presente, o passado e o futuro.


Elas não olham para ninguém nesse dia, mesmo que o restaurante seja desses de bufê. Passeiam entre as mesas em ignorância sublime aos outros freqüentadores, salvo se uma delas reconhece alguém, em especial um homem. Pronto, ali aparece a presa fácil ao cumprimento de uma e à crítica de todas. Nem o boi deve ficar tão aflito em rio de piranhas nem o gladiador rodeado de leões, nem o mocinho com todo um bando ao redor. Aquelas bocas batonadas, aqueles dentes, aquelas línguas, em seguida o despirrão (só mesmo um termo assim para descrever) do cadarço do sapato ao penteado engomado.


O assunto da mesa não é o mais importante, mas sim o tempo equivalente ao monólogo de cada uma. Tem sempre uma chefa passando o microfone, tem sempre uma tímida ressabiada.


A única coisa que pode mudar esse banho igualitário é o telefone celular. Esse mal-educado não aprendeu ainda que não pode interromper um almoço de mulheres. E seja lá quem for que ligar filho, marido, primo, empregada ou veterinário, sempre será apresentado como um ninguém, um malicioso e recatado... ninguém.


Os homens olham, entre a curiosidade e a inveja, aquele grupo de saias. Sentem-se excluídos, inúteis, desprezados. Tentam ridicularizar, mas não conseguem, pois é superior o desprezo das convivas. E então constatam o abismo que os separa. Sofrem ao perceber que, para estar sós entre si, elas vieram tão arrumadas, perfumadas, chiques.


Descobrem que uma mulher se despe para um homem, mas se veste para outra mulher. Aos homens, só lhes resta contemplar admirados e esperar que depois da sobremesa, do cafezinho, ela queira mudar de assunto e de parceria. E que ele agüente sua curiosidade sobre o que se falou naquela mesa. Um homem não é convidado ao almoço das mulheres. No limite, é só pasto.



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